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segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Abraços



Até abraçar desaprendemos. 
Ninguém mais abraça com vontade.
 Com sinceridade de velório. 
Odeio abraço falso, como aquele beijo de frígida, 
no qual a face bate na face e os lábios se transformam em beiço.
 Abraço tem que ter pegada, jeito, curva.
 Aperto suave, que pode virar colo.
 Alento tenso, que pode virar despedida. 
É pelo abraço que testo o caráter do outro. 
Não confio em quem logo dá tapinhas nas costas
 A rapidez dos toques indica a maldade da criatura.
 Não sou porta para bater.
 Nem madeira para espantar azar. 
Abraço com toquinho é hipócrita.
 É abraço de Judas
. De traidor. 
O sujeito mal encosta a pele e quer se afastar.
 Pede espaço porque não suporta os pecados dos pensamentos.
Devemos fechar os olhos no abraço, respirar a roupa do abraçado,
 descobrir o perfume e a demora no banho.
 Abraço não pode ser rápido senão é empurrão. 
Requer cruzamento dos braços e uma demora do rosto no linho.
 Abraço é para atravessar o nosso corpo.
 Ir para a margem oposta.
 Nadar para ilha e subir ao topo da pedra pela gratidão de sopro. 
Sou adepto a inventar abraços.
 Criar abraços

Inaugurar abraços

Realizar um dicionário de abraços

Um idioma de abraços

 O meu é o de cadeira de balanço. Giro nas pontas dos pés. 
Não largo, os primeiros minutos são para sufocar

os demais servem para o enlaçado se recuperar do susto.
 Não entendo onde terminará o abraço

Se a pessoa vai chorar ou vai rir. 
Abraço é confissão.
 Dez minutinhos de sol e de liberdade.

Fabrício Carpinejar

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